De acordo com notícia publicada no Oilprice.com, o Japão está a promover o financiamento bonificado de tecnologia para centrais a carvão entre vários países asiáticos em vias de desenvolvimento, no que está a ser visto por muitos países europeus e pelos EUA como uma medida negativa que surge em contra-ciclo face ao que tem sido feito pelos próprios (os EUA suspenderam este tipo de incentivo em 2013). Segundo estes, tais apoios aumentarão a competitividade do carvão, conduzirão a mais centrais a carvão e, em consequência, ao aumento das emissões globais.
Os argumentos japoneses são opostos. O Japão invoca que estas centrais seriam inevitavelmente construídas e que a sua tecnologia permitirá uma redução significativa de emissões, ao mesmo tempo que prevê conseguir negócios no valor de 4 biliões de dólares. Refere mesmo que se todas as centrais a carvão na China, Índia e EUA substituíssem a tecnologia existente pela tecnologia promovida pelo Japão, a redução de emissões seria de cerca de 1,5 biliões de toneladas de CO2 por ano, superior à totalidade das emissões japonesas em igual período.
Estamos claramente numa zona cinzenta em termos de decisão ambiental. Se por um lado muitas daquelas centrais seriam de facto construídas - e mais vale que disponham de tecnologia que minimiza o seu efeito poluidor - outras talvez apenas vejam a luz do dia devido aos incentivos nipónicos, substituindo alternativas eventualmente menos poluidoras. Isto, claro, em termos de conceitos abstractos de redução das emissões globais.
No entanto, a questão mais interessante relativa a este tema e que ainda não parece ter sido levantada prende-se com os benefícios colaterais dos japoneses ao promoverem a opção do carvão (e os prejuízos para, por exemplo, os americanos).
Desde o acidente de Fukushima e da decisão de suspensão das suas centrais nucleares que o Japão se tornou num sorvedouro de carvão e gás natural. A promoção das centrais a carvão entre os restantes países asiáticos, muitos deles seus vizinhos, retirará certamente alguma pressão sobre a procura de GNL, permitindo aliviar duplamente a sua balança comercial, através da venda das centrais e da compra do gás natural.
Quanto aos EUA, são hoje excedentários de gás natural, existindo pedidos de autorização da Exxon às autoridades americanas para exportar do Alasca para o mercado asiático. A própria Exxon é a promotora de um dos maiores projetos de GNL do mundo, na Papua Nova Guiné, que tem já vários contratos assinados com empresas japonesas, pelo que qualquer iniciativa que possa conduzir a uma redução do preço do gás no mercado asiático será visto como uma ameaça económica para os americanos.
Como se constata, em política energética, as coisas raramente são (apenas) o que parecem...
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