Os últimos 10 anos marcaram uma mudança de paradigma em termos de produção mundial de petróleo, com um impacto significativo no consumo global, não se prevendo alterações de padrão para os próximos anos. As conclusões são de James D. Hamilton, da Universidade da Califórnia, San Diego, sustentadas em dados reais de produção e consumo das últimas décadas, estão disponíveis aqui e merecem, pela sua relevância, ser analisadas em pormenor.
Segundo Hamilton, desde 2005
assistimos a uma queda do consumo de petróleo nos países desenvolvidos, o qual
se situava em 2012 em valores próximos dos de meados da década de 90. Pelo
contrário, assistiu-se a uma aceleração do crescimento do consumo nos países
emergentes, que representaram 55% do consumo mundial de petróleo em 2013.
Embora o crescimento do consumo dos países emergentes fosse já projetado, o
consumo mundial ao longo da última década foi ano após ano inferior ao estimado.
Para se ter uma noção do desvio
ocorrido, a US Energy Information Agency (EIA) projetou em 2001 um consumo
mundial de 118 milhões de barris/dia para 2020, o qual foi reduzindo ao longo
da década até um valor de 92,5 milhões de barris/dia nas suas previsões de
2010. Trata-se de uma redução de 22% no consumo mundial de petróleo, a qual não
é justificada por uma redução equivalente do crescimento do PIB mundial. De
facto, assumindo uma elasticidade histórica de 0,7 entre PIB e consumo de
petróleo (ou seja, a subida de 1,0% no PIB estar tipicamente relacionada com
uma subida de 0,7% no consumo de crude), face a um crescimento do PIB mundial
de 27,7% entre 2005 e 2013 seria previsível, a preços constantes, um aumento do
consumo de crude de 19,4%. O valor real foi de 3,1%.
A razão para a quebra desta
relação deveu-se, segundo Hamilton, à incapacidade da produção em acompanhar a
procura, nomeadamente nos crudes convencionais, forçando o preço do crude a
subir, desincentivando progressivamente o seu consumo e favorecendo soluções
alternativas. Esta escassez de crude justifica também o agravamento do diferencial
entre a sua cotação e a do gás natural (em especial nos EUA, devido à crescente
produção de gás de xisto).
Hamilton faz também uma descrição
das várias causas para a incapacidade da indústria mundial em acompanhar a
procura, identificando nomeadamente motivos de ordem geopolítica, ressalvando no
entanto que a principal causa parece ser de origem geológica e tecnológica e
que só o fenómeno do shale oil nos
EUA tem permitido mitigar os défices estruturais da indústria. Em jeito de
conclusão, Hamilton prevê que o preço do crude se mantenha, de forma
sustentada, acima dos $100/barril.
Trata-se de um estudo interessante e que deixa várias questões para análise futura.
Em primeiro lugar, sobre qual
o real peso do óleo de xisto na produção futura, parecendo depender em parte do
seu sucesso a capacidade de manter os níveis atuais de produção mundial de
crude. Hamilton também o refere, alertando para as muitas dificuldades
logísticas e administrativas que este tipo de produção não convencional
acarreta em comparação com a exploração convencional ou offshore, visto estar sustentada num ritmo quase frenético de
perfurações, com a produção a cair, em média, para 20% da inicial após 2 anos
de produção. Caso não se confirme a euforia em torno desta nova fonte de hidrocarbonetos, é previsível um agravamento dos défices globais e uma nova escalada do preço do crude.
Em segundo, sobre a relação entre
os custos de produção das várias alternativas existentes e os equilíbrios que
se gerarão entre elas nos vários mercados energéticos (geográficos e
setoriais). Tendencialmente, apesar do enorme peso que o crude continua a ter
no perfil mundial de consumo energético, é expectável – apenas pela variação do
custo – um aumento do incentivo ao investimento e produção de outras formas de
energia, nomeadamente renováveis, não sendo porém de esquecer soluções menos
românticas, como o carvão e o nuclear.
Em terceiro lugar, será também muito interessante
analisar as alterações comportamentais resultantes deste aumento do custo da
energia nos mercados em que as alternativas ao crude são praticamente nulas,
como são os setores dos transportes e a indústria petroquímica, precursora de
grande parte dos objetos de grande consumo. Mas isto ficará para outro artigo.
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