É recorrente ler-se e ouvir-se sobre a dependência mundial face aos países
árabes e apontar-se a culpa para a pouca dispersão dos produtos petrolíferos no
globo. É esse também o argumento apontado para a maior volatilidade do petróleo
face ao carvão, historicamente menos volátil que o crude. Essa ideia prevalece
na opinião pública em geral e até em alguns meios na área da energia.
Simplesmente, olhando para os dados da produção das principais fontes de
energia primária fóssil – petróleo, carvão e gás natural – a realidade
afasta-se um pouco desta concepção.
No caso do gás natural observa-se um domínio da América do Norte e da
Eurásia que representavam, em 2012 quase metade da produção mundial.
(Dados para 2012 da US Energy Information Agency)
Por países observa-se EUA e Rússia dominam o panorama mundial cada um com
quotas que rondam os 20% da produção mundial sendo que os países que se seguem
no ranking apresentam quotas iguais ou inferiores a 5%.
(Dados para 2012 da US Energy Information Agency)
No caso do carvão a região dominante é a Ásia & Oceania com mais de 2/3
(!) da produção mundial.
(Dados para 2012 da US Energy Information Agency)
Por países, a predominância da China é clara com quase metade da produção
mundial seguido de EUA e índia. Os restantes países apresentam quotas iguais ou
inferiores a 5%.
(Dados para 2012 da US Energy Information Agency)
No caso do crude temos de facto uma predominância do Médio Oriente com
quase um 1/3 da produção mundial
(Dados para 2013 da US Energy Information Agency)
Mas, por países, a situação é bem distinta. O país que actualmente lidera a
lista de produtores mundiais é a Rússia ligeiramente acima da Arábia Saudita e
dos EUA. Nesta lista os países da OPEP só voltam a aparecer a partir do 6º
lugar.
(Dados para 2013 da US Energy Information Agency)
Observa-se então que numa desagregação por países, o crude é das fontes
primárias de energia melhor distribuídas. E, curiosamente, o combustível com
maior índice de concentração é o carvão que,por sua vez, também é o que tem um
preço relativamente menos volátil.
Sendo inegável o grande peso dos países do Médio Oriente e o impacto da
OPEP na definição do preço do crude, o argumento da concentração da produção
numa só região do globo é um mito. Portanto, a haver uma explicação para a
dependência do resto do mundo face aos países árabes terá de passar por outros
argumentos que irão ser explorados em próximos posts bem como a análise da
volatilidade dos preços do carvão e do crude.
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