Energy

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quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Shale or Fail 2

Ainda na sequência do post que publiquei a 14.ago fica aqui o link para mais um interessante artigo de análise do efeito shale oil nos EUA, publicado ontem no Finantial Times, completado por uma excelente infografia que nos permite acompanhar a produção petrolífera nos EUA desde 99 por Estado e ainda perceber o aumento de produtividade dos poços de óleo de xisto ao longo do tempo. 

Destaco os parágrafos abaixo, que penso que reforçam o que procurei transmitir no post anterior (aliás explícito no próprio título):

As Per Magnus Nysveen of Rystad, a consultancy in Norway, puts it, the US is taking on the role of “swing producer” that was once played by Saudi Arabia and other members of Opec, the oil producers’ cartel: raising production at a time of high prices to stabilise the market.

If US oil production stops rising or worse, begins to fall, it could send prices soaring.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Relatório 2.º trimestre de 2014


 
 
Foi hoje publicado, pela Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas (“APETRO”) um relatório sobre a evolução no mercado dos produtos petrolíferos no 2.º trimestre de 2014.
Para além de bastante útil e interessante, este relatório vem (mais uma vez) demonstrar que o peso da tributação aos combustíveis liquidos em Portugal representa a maior fatia do preço final de venda ao público.
A titulo de exemplo, o relatório refere que, no caso da Gasolina 95, o PMAI (preço médio de venda antes de impostos) é cerca de 2 c/l abaixo dos preços praticados em Espanha mas que, em relação aos PMVP (preços médios de venda ao público), a situação inverte-se chegando a haver uma diferença de 15 c/l desfavorável a Portugal. Esta disparidade é explicada pela maior carga fiscal em Portugal.

Este estudo apresenta ainda outros dados interessantes tais como a demonstração da recuperação do consumo de gasolina e gasóleo no 2.º trimestre em comparação com o 1.º trimestre de 2014 ou ainda que, no caso do GPL Auto, Portugal apresenta preços, tanto ao nivel de PMAI como de PMVP abaixo da média europeia e em linha, no caso dos PMVP, com Espanha.
Deixo-vos aqui o link para o relatório:
http://www.apetro.pt/documentos/informacao_2_trim_2014.pdf

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Foto-voltaico em Portugal: Realidade ou mito sebastianista?

Há vários anos que acompanho o mercado da energia solar em Portugal e que ouço falar da promessa do fotovoltaico, mas o arranque débil e a dificuldade que tem tido para crescer a par de outras energias alternativas sugerem que poderá não passar de mais um mito sebastianista.






De acordo com o “Global Market Outlook for Photovoltaics 2014-18”, publicado pela EPIA, Portugal tem uma capacidade instalada de apenas 24W per capita, o que contrasta com 294W em Itália, 229 W na Grécia e 71 W em França. Isto para não falar de alguns países do Norte da Europa, como a Alemanha, com capacidades instaladas acima dos 400W por habitante. Estes números são tão mais curiosos, se tivermos em consideração que Portugal tem um défice energético assinalável e é um dos países com maior número de horas de exposição solar em toda a Europa.
 
As razões por trás deste enigma são várias e assacam responsabilidades a um conjunto alargardo de intervenientes no mercado, mas eu gostaria de destacar três:
  • Ausência de uma visão para o setor: a falta de uma estratégia para o setor é bem visível e é capaz de ser o principal responsável para o fraco desenvolvimento do fotovoltaico em Portugal. Vários Governos elegeram a energia solar como uma prioridade, algo que foi aliás consagrado no último PNAER, mas a forma como o setor foi estruturado desde a sua inseminação nunca permitiu ao setor ganhar músculo. A política de subsídios, melhor conhecida na Europa por Feed In Tariff (FIT), é paradigmática desta falta de visão. Basta ver como os subsídios começaram por ser estendidos à micro-geração e só recentemente alargados à mini-geração, contrariamente a outros países Europeus. Sendo que os apoios a projectos estruturantes continuam a ser inexistentes. Ora, isto levou a uma pulverização de micro-empresários, sem capacidade nem ambição de desenvolver o setor. Em simultâneo vai levar a uma situação insustentável para o orçamento nacional, que se vai ver cada vez mais forçado a restringir os subsídios mediante o excesso de procura, sem que o setor, no entanto, tenha capacidade de caminhar por si.
  • Fraca aposta na produção de larga escala: os números que apontam para apenas 1% do investimento em fotovoltaico estar centrado em parques eólicos terrestres refletem uma falta de investimento privado neste setor e comprometem a afirmação do fotovoltaico como substituto a outras fontes de energia tradicionais. Por trás disto, está o facto da política de subsídios promover a micro-geração, mas também o facto de serem oferecidas melhores condições a outras fontes alternativas como o vento.
  • Desiquilíbrios na cadeia de valor: desde o início, vários players posicionaram-se numa parte mais a montante da cadeia de valor, apostando na produção, instalação e manutenção de panéis fotovoltaicos orientados para o segmento residencial. Mas a aposta num conjunto fragmentado de pequenos produtores residenciais sem planos de expansão acabou por afunilar o mercado. Muitos destes operadores acabaram por ter que se voltar para a exportação, relegando Portugal para mercado secundário e desacelerando ainda mais o desenvolvimento do fotovoltaico.
Neste momento, é importante pensar como retirar o setor deste empasse. Naturalmente que o primeiro passo é definir uma visão clara para este mercado e corrigir o enquadramento regulatório. Mas a solução não se extingue aqui e passa também por uma mobilização do setor privado. Como food for thought deixo-vos um vídeo com o caso de um dos players mais disruptivos no setor e que foi capaz de colocar o fotovoltaico no topo da agenda dos renováveis em França. https://www.youtube.com/watch?v=viAyuIGHUM4

Shale or Fail

O artigo publicado pelo prof. James Hamilton e que comentei aqui a 25.jul provocou uma pequena onda de choque que levou a análises complementares de refutação ou suporte das conclusões por ele apresentadas. Hamilton conclui que não vê razões estruturais para que o preço do petróleo baixe dos $100/bbl e apresenta dados concretos para o suportar.

John Kemp, Senior Market Analyst de Commodities e Energia na Reuters, num artigo publicado na Rigzone a 28.jul, considerou que esta análise desvalorizava o papel do shale oil na produção futura e, embora de forma qualitativa e suportado nas séries longas do preço do petróleo, considerou que é mais provável que o preço desça dos valores anormalmente altos em que se encontra do que se mantenha ou mesmo suba.

No dia 30.jul foi a vez de Steven Kopitz, diretor da Princeton Energy Advisors, uma start-up de consultoria energética, reforçar com dados muito concretos as conclusões de Hamilton, em artigo publicado no The Barrel. Kopitz divulga informação preciosa para a compreensão da origem da produção mundial de hidrocarbonetos nos últimos 5 anos e em especial do importante papel do shale oil na estabilização do preço do petróleo bruto.

Gráfico 1 - Origem da produção mundial de hidrocarbonetos (fonte: Steven Kopitz)

World Oil Supply

No gráfico 1 é perceptível a ligeira redução da produção convencional desde 2004, compensada por vários factores, nomeadamente ganhos processuais, produção de biocombustíveis e aumento da produção de gás natural. No entanto, só a massificação da produção de shale oil permitiu um aumento da oferta global. Em 2013 esta origem produtiva correspondeu a cerca de 4% da produção mundial e 70% do aumento de produção verificado nesse ano. A produção de shale oil tem diferenças significativas relativamente à chamada produção convencional. Cada poço tem um decaimento muito acelerado, caindo a produção para metade ao fim de um ano e obrigando a uma intensa actividade de perfuração. As duas principais áreas de actividade nos EUA (Eagle Fod e Bakken) deverão atingir a sua produção máxima em 2015 ou 2016, pelo que se afigura como pouco provável que o shale oil consiga continuar a levar às costas a procura mundial de petróleo.

Mas além da questão física existem ainda dúvidas de origem económica quanto à sustentabilidade da actividade de extracção de óleo de xisto. Kopitz compilou informação sobre os Free Cash Flows (FCF) das empresas independentes americanas produtoras de Oil & Gas, com forte exposição ao shale oil e shale gas.

Gráfico 2 (fonte: Steve Kopitz)
Cash Flow

Os resultados são muito pouco animadores para o setor. O retorno não está a permitir suportar o capex (capital expenditure), o que para uma actividade com ciclos de vida tão curtos é preocupante. 

Também segundo Kopitz, baseado em dados da Goldman Sachs, o breakeven para novos projectos, como o do Árctico ou das areias betuminosas, anda em torno dos $110/bbl, o que não faz prever uma oferta futura a preço inferior ao actual. A produção convencional tipicamente mais barata (tipicamente on shore) tem sofrido disrupções por motivos geopolíticos e nada faz prever o seu crescimento a curto prazo (aliás, os factos do último ano, com tensão constante na Síria e Iraque, a escalada do conflito israelo-palestiniano, a instabilidade na Líbia e o movimento secessionista pró-russo na Ucrânia apenas fazem prever uma manutenção ou agravamento das perdas de produção e pressões na supply chain do petróleo e gás).

Assim, a grande questão que se parece colocar é até onde irá a produção de shale oil, embora se comecem a acumular sinais pouco motivadores também a este nível.

A meu ver e com base nos dados disponíveis, concordo com Hamilton e Kopitz e penso que caminhamos para uma nova fase de escassez de petróleo a qual, pela falta de elasticidade do mercado, deverá conduzir a uma subida significativa do seu preço e, provavelmente, uma nova recessão global (apesar de uma diminuição relevante da intensidade energética na Europa e EUA - em boa parte pela transferência da produção industrial para a Ásia - continua a existir uma relação positiva entre o consumo de energia e o crescimento económico).

Em termos geopolíticos, caso o efeito shale oil se prove efémero, os EUA serão obrigados a uma inflexão na sua posição mais recente de afastamento do Médio Oriente, já de si uma consequência da bonança ocorrida no seu território. Também em África muitos dos interesses americanos têm sido substituídos por uma maior presença chinesa e este novo status quo será difícil de alterar, pelo longo prazo de muitos dos compromissos assumidos entre os estados africanos e a China.

Todos estes factores projectam um cenário energético e geopolítico muito instável num horizonte de 5 anos.


terça-feira, 12 de agosto de 2014

(Ainda) A Reforma da Fiscalidade Verde

No seguimento do último texto do Nuno (que recomendo vivamente), decidi também escrever um pouco sobre a tão falada Reforma da Fiscalidade Verde.
Entre medidas que me parecem (minimamente) positivas (incentivo ao abate de automóveis usados) e outras que me parecem totalmente erradas, o que salta à vista é que estamos perante um possível aumento de impostos puro e duro cujas medidas não me parece que consigam atingir os objectivos pretendidos.
De entre toda as medidas ressalvo uma que me parece o epiteto deste aumento de impostos: A tributação de carbono.
Caso as medidas propostas sejam aplicadas, haverá, necessáriamente, um agravamento do imposto sobre os produtos petrolíferos e energéticos (ISP), que irá incidir, directamente, no preço dos combustíveis.  A este respeito, é interessante ver este pequeno video disponibilizado pela APETRO (www.apetro.pt/petroleo2.html) que refere até que ponto a carga fiscal existente na UE já impacta o preço dos combustiveis.  
Segundo a própria Comissão para a reforma da Fiscalidade Verde, calcula-se que produtos como a gasolina e o gasóleo sejam “agravados” entre 1 a 5% e o gás natural para uso doméstico cerca de 8%. Com o nivel de tributação actualmente existente sobre os produtos petrolíferos, não é dificil chegar à conclusão de que estamos perante mais um agravamento fiscal de uma “categoria” de  produtos que já é fortemente penalizada em termos fiscais
Interessante é também ler o texto da Comissão para a Reforma da Fiscalidade Verde quando refere que:
Especificamente no que diz respeito ao impacto ambiental, a experiência de outros países indica que, apesar de não gerar um impacto substancial sobre o nível de emissões, os impostos sobre o carbono e a energia levaram a uma redução/poupança anual de cerca de 1% nas emissões de dióxido de carbono e uma ligeira melhoria na eficiência energética em alguns países” (sublinhado nosso).
Após ler o excerto acima, parece-me óbvio que se deveria estudar a fundo os impactos da tributação de carbono (na economia nacional) e depois comparar com os resultados expectáveis para se decidir se de facto, pondo ambas as coisas na balança, será desejável mais tributação sobre o carbono (dica: Posso estar enganado mas se se fizer um estudo sério aposto que vai ser dificil construir um caso sustentado para a criação da tributação do carbono).
Para terminar, gostava de partilhar um excerto de um artigo que li há uns tempos, precisamente sobre a discussão da “bondade” e “eficácia” da tributação ao carbono:
"So would a carbon tax be a good policy to deal with greenhouse gas emissions? Recent economic literature argues that carbon taxes can lead to a “double dividend,” whereby emissions would be reduced (a green dividend) and the revenues could be recycled to cut harmful taxes, thus improving the efficiency in the tax system (a blue dividend).
 
Actually, I like to think of environmental taxes as providing a third dividend, red, which is related to the distributional consequences of the policy. The case for the triple dividend argument, however, is not so clear. Here is why.
 
The argument for a carbon tax yielding a green dividend is that consumers will avoid purchasing higher taxed products with greater carbon content. However, the tax approach may achieve little in the way of environmental objectives. The demand for such products as gasoline and heating fuel is less sensitive to price, since the tax also falls on necessary, almost essential, services such as heating and transportation. The carbon tax is also a highly inflexible tool since it cannot be easily adjusted for changing emission levels. Further, governments become reliant on the revenue and are less willing to adjust the tax rates downward when emissions decline. For these reasons, some experts have argued regulations that limit emissions, including tradable permit regimes, can be more effective and more flexible.
 
The blue dividend from a carbon tax could include recycled revenues spent on environmental programs. Dedicated taxes are anathema to finance departments since they introduce a rigidity in which the revenue must be spent on a bureaucratic-devised program regardless of whether the money is needed. Instead, greater bang for the buck could be achieved if carbon tax revenues were to replace economically harmful levies with high marginal tax rates on earnings, investment and risk-taking. You can bet your bottom tax dollar, however, that recycled revenues would likely be spent on transfers and politically driven public programs instead. Thus, no assurance can be given that the blue dividend would even be positive.
 
A carbon tax most likely results in a negative red dividend because it falls most heavily on the poor, whose consumption of gasoline, electricity and heating fuel tends to be a larger share of their resources compared to the rich.
 
So carbon taxes have little appeal in the sense that the green and blue dividends are far from certain and the red dividend is undoubtedly negative.” (Jack Mintz)
 
P.s – Para uma visão global da Reforma da Fiscalidade Verde sugiro a leitura deste Artigo  - http://observador.pt/opiniao/o-proximo-aumento-de-impostos-sera-verde/
 

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

O problema económico da fiscalidade “verde”

Um das ferramentas usadas pelos Estados para tentar minimizar as externalidades negativas induzidas pela actividade humana são os impostos, onerando as actividades poluidoras e/ou aliviando a carga fiscal a quem adopte comportamentos ou tecnologias consideradas desejáveis do ponto de vista ambiental.
No nosso país temos o caso dos incentivos à Produção em Regime Especial (PRE) – produção eólica, cogeração, biomassa, pequenas hídricas mini e microgeração – no sector da eletricidade. Estes consistem em subsidiar este tipo de produtores garantindo-lhes um preço fixo de venda da energia entregue às redes de distribuição e transporte de electricidade. Esta renda – denominada como sobrecusto da PRE – corresponde à diferença entre o preço de mercado da electricidade e o preço garantido sendo depois reflectido na factura dos clientes finais em baixa tensão. Segundo dados de 2013, 6% da factura paga destinou-se a cobrir o referido sobrecusto. A eletricidade produzida por estes tem também, por desenho do sistema, escoamento garantido só podendo ser desligados em caso de emergência.
Esta subsidiação é grande responsável por, em 2013, 45% da electricidade produzida ter tido origem nos PRE e mais de metade ter sido de origem renovável.
A questão que se põe no caso das subsidiações é se, de facto, os benefícios trazidos pelo aumento da produção renovável compensaram os custos incorridos pelos consumidores. E essa análise é muito difícil porque os benefícios são quase impossíveis de medir. Existem de facto estudos que procuram medir o impacto das medidas implementadas/propostas e que vão quase sempre no sentido de um balanço positivo das medidas a aplicar mas na realidade estes partem do pressuposto de se conhecer a trajectória da economia na ausência dessas medidas.
A única forma de avaliar o custo que os consumidores estão a suportar pela redução de emissões seria dar-lhes a opção de escolher o mix de electricidade - limpa ou convencional – que pretendem consumir. Os preços e quantidades transaccionadas no mercado permitiriam realmente ler a valorização que os consumidores dão aos benefícios trazidos pelos PRE.
Existindo uma desproporção entre custos e benefícios, isso configura uma situação de desperdício de recursos que afecta a economia, consumidores e contribuintes. O risco de imposição de custos excessivos por via de leis de promoção ambiental deriva essencialmente de:

1.       Decisores políticos tradicionalmente pouco sensíveis à opinião das populações em favor das suas convicções.
2.       Balanceamento parcial dos vectores - ambiental, técnico e económico - que devem pesar nesse tipo de decisões. Em geral com prevalência esmagadora do primeiro…


Feito este “preâmbulo”, convido à leitura – nem que seja na diagonal – do Anteprojecto da Reforma da Fiscalidade Verde à luz do paradigma proposto neste post.