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segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Evolução do preço dos principais combustíveis rodoviários (2004-2014) - Parte 2/2

Na sequência da análise preliminar feita aqui, segue uma análise mais técnica da (co-)relação entre os preços dos combustíveis rodoviários e o preço do petróleo.

É curioso constatar que nas 574 observações analisadas (observações semanais entre 2004 e 2014), o número de semanas em que houve aumentos de preços foi praticamente idêntico ao número de semanas em que houve descidas (nos preços dos três produtos).

Movimento
Gasolina
Gasóleo
Brent
Subida
52%
51%
49%
Manutenção
6%
5%
0%
Descida
42%
44%
51%
Quadro 2 – Percentagem de casos de subida, descida e manutenção de preços para a gasolina 95, gasóleo e Brent

Como é expectável que, dado o processo produtivo dos combustíveis, as oscilações do preço do crude não tenham impacto imediato no preço dos combustíveis calcularam-se as correlações admitindo diversos desfasamentos temporais (em semanas).

Desfasamento
Gasolina
Gasóleo
0 semanas
0,979
0,979
1 semana
0,982
0,984
2 semanas
0,979
0,984
3 semanas
0,973
0,981
Quadro 3 – Coeficientes de correlação entre o preço dos combustíveis e o preço do Brent (valores absoluto de 1 significa correlação linear perfeita e 0 significa ausência de correlação)

Os coeficientes de correlação são sempre superiores a 0,97 (pelo menos até às 3 semanas de desfasamento). O desfasamento de uma semana é o que origina maiores coeficientes de correlação nos dois combustíveis, algo que é claramente confirmado quando se repete a análise das séries em diferença e em taxas de crescimento. A estimação de modelos econométricos permite confirmar que os preços de uma determinada semana são significativamente afectados pela evolução verificada para o crude nessa semana e nas três anteriores mas o maior impacto vem do preço do crude da semana anterior. Há também forte evidência que suporta uma relação de longo prazo entre o preço dos combustíveis e o preço do Brent que aponta para que, em média, o preço da gasolina varie 0,7 cêntimos por litro por cada Euro de variação de um barril de Brent e 0,8 cêntimos por litro no caso do gasóleo.

Focando-nos na resposta dos preços dos combustíveis a variações ocorridas no preço do crude da semana anterior, observa-se o seguinte:


 Figuras 4 e 5 – Gráficos de dispersão que comparam a variação do preço do crude na semana t-1 com a variação do preço da gasolina e do gasóleo, respectivamente, na semana t

A correlação é clara e corrobora que variações do preço do crude têm um impacto ligeiramente superior no preço do gasóleo que no preço da gasolina. Outro aspecto que sai desta análise é que, em média, se verifica que o preço dos combustíveis sobe (entre 0,02 e 0,03 cêntimos por litro a cada semana) independentemente da subida ou descida do crude. Mas convém não esquecer que esta análise se refere a apenas um desfasamento e que quando se analisam a totalidade dos desfasamentos significativos a constante não é significativamente diferente de zero.

Os quadrantes Noroeste e Sudeste dos gráficos representam os casos em que as variações dos preços tiveram direcções opostas e, no caso desta análise desfasada em uma semana, o número de casos em que os combustíveis sobem quando o crude desce é ligeiramente superior ao do fenómeno oposto.

Estimou-se um modelo simples para permitir reunir evidência que confirme se as variações, apenas com desfasamento de uma semana, são idênticas para as subidas e para as descidas do crude. O modelo econométrico estimado valida a hipótese de assimetria da resposta (mas convém recordar que estamos apenas a analisar o desfasamento mais importante e não uma análise total que se revestiria de maior complexidade). Só que, ao contrário da opinião mais comum, as evidências vão no sentido de uma maior sensibilidade dos preços nas descidas do que nas subidas.




Figuras 6 e 7 – Funções estimadas para a relação entre a evolução dos preços da gasolina e do gasóleo com o preço do crude no momento t-1 com base em observações semanais entre 2004 e 2014

Em média, o preço da gasolina é 3 vezes mais sensível nas descidas do que nas subidas ao passo que o gasóleo é 2 vezes mais sensível na primeira situação do que na segunda. No quadro seguinte mostra-se qual foi, em média, o impacto nos combustíveis de variações no preço do crude com base nos resultados deste modelo (limitado).

Sensibilidade média dos preços a variações no preço do Brent (EUR)
Variação Brent
(EUR/barril)
Variação Gasolina
(EUR/litro)
Variação Gasóleo
(EUR/litro)
-10
-0,043
-0,036
-5
-0,020
-0,017
-2
-0,007
-0,006
-1
-0,002
-0,002
0
0,002
0,002
1
0,004
0,004
2
0,006
0,006
5
0,011
0,011
10
0,019
0,021
Quadro 4 – Simulação das variações nos preços dos combustíveis com base nas funções estimadas

Em resumo, da análise realizada é possível demonstrar que em Portugal:
·    O preço dos combustíveis antes de impostos se encontra fortemente correlacionado com a evolução do preço do Brent
·    No cálculo dos preços dos combustíveis está contida informação da evolução do preço do crude até, pelo menos, às 3 semanas anteriores
·         O preço do crude na semana anterior à fixação de um novo preço é o que tem maior peso
·      Não existe evidência de que os preços dos combustíveis sejam mais sensíveis às subidas do que às descidas no preço do crude

Com base nestes resultados pode concluir-se que a fiscalidade tem servido de filtro do sinal de preços que é percepcionado pelos consumidores. Se é verdade que traz o benefício de reduzir a volatilidade nos preços, também é verdade que tem um impacto muito significativo no preço final com as devidas consequências nas opções de consumo e poupança bem como o efeito de transmitir a ideia de uma desconexão entre o preço do petróleo bruto e dos combustíveis.




sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Evolução do preço dos principais combustíveis rodoviários (2004-2014) - Parte 1/2

É comum ouvir-se tanto em conversas de café como nos media a ideia de que há uma assimetria no ajustamento dos preços da gasolina e do gasóleo em relação ao preço do petróleo. Existe a percepção de que os preços da gasolina e do gasóleo nem sempre descem quando o crude desce e que as subidas são sempre mais rápidas e intensas do que as descidas. Esta percepção está errada (algo que este artigo, dividido em duas partes, pretende demonstrar) e, mesmo que estivesse certa, esquece que há mais factores para além do crude a determinar as variações no preço dos combustíveis.


Comparando a evolução semanal dos preços do Brent e dos dois principais combustíveis líquidos, expressos em euros para expurgar o efeito cambial, constata-se uma correlação significativa entre os três.

Figura 1 - Evolução semanal do preço do Brent (valores no eixo da direita), da gasolina 95 e gasóleo (valores no eixo da esquerda) expresso em Euros.

Valores para o preço do Brent foram obtidos no site da U.S. Energy Information Agency (http://www.eia.gov/dnav/pet/hist/LeafHandler.ashx?n=pet&s=rbrte&f=w) e os preços da gasolina e gasóleo em Portugal foram extraídos do site da Direção Geral de Energia e Geologia (http://www.dgeg.pt/ Estatísticas e Preços -> Preços de Combustíveis -> “Preços de Combustíveis Líquidos (a partir de 2004)”).

Constata-se igualmente que a trajectória do preço do crude é manifestamente mais volátil que a dos combustíveis e que há um grande paralelismo entre o preço do gasóleo e da gasolina mas com algumas excepções. Os preços acima ilustrados são preços de venda ao público pelo que são afectados pela componente fiscal. A figura seguinte compara os preços antes e depois de impostos.


Figura 2 - Evolução semanal do preço da gasolina 95 e do gasóleo com e sem impostos (IVA, ISP e outros).

Do gráfico conclui-se que o PVP da gasolina é constituído por cerca de 60% de impostos (IVA, ISP e outros) e o do gasóleo por cerca de 50%. Expurgado o efeito fiscal, os preços da gasolina e do gasóleo são praticamente idênticos tendo-se verificado, neste período, que o gasóleo se situa ligeiramente acima da gasolina. A longo prazo as opções fiscais induzem um comportamento no preço dos combustíveis que é bastante distinto do preço antes de imposto e que é o que está, de facto, ligado aos custos de produção e vicissitudes do mercado dos combustíveis fósseis. São, portanto, estas séries que devem ser comparadas com a evolução do preço do crude para que se possa retirar alguma conclusão no que toca à dinâmica dos preços.


Figura 3 – Comparação do preço da gasolina 95 e do gasóleo sem impostos e o Brent (valores no eixo da direita)

Se na Figura 1 a correlação entre o Brent e os preços dos combustíveis era forte, agora parece quase perfeita. Constata-se por isso que a volatilidade dos preços antes de impostos é superior à dos preços de venda ao público.

Na segunda parte irão ser apresentados os resultados de uma análise mais científica à relação entre estas séries.