A Cap Gemini lançou recentemente o seu relatório anual “European Energy Markets Observatory” cujo editorial pode ser consultado aqui.
Na análise aos mercados europeus de electricidade o relatório refere os seguintes problemas:
- “Situação caótica” com inúmeros episódios de preços negativos. Tal ficou a dever-se a excesso de oferta originada pelas fontes renováveis e por rigidez de algumas fontes de energia (principalmente nuclear e térmicas de origem fóssil). No caso das renováveis, os preços negativos são originados pelo facto de existir um preço garantido pela energia produzida o que leva os produtores a estarem dispostos a pagar para produzir desde que o preço (negativo) de mercado não ultrapasse o valor recebido por MWh produzido. Mais sobre este assunto aqui.
- Encerramento de um número significativo de centrais a gás natural que haviam sido construídas numa lógica de segurança de abastecimento.
- Poucos incentivos de mercado para realização de investimentos em soluções sem carbono.
- Subida dos preços ao consumidor.
- Deterioração da situação financeira de algumas utilities, nomeadamente as ligadas ao gás natural.
As causas apuradas para esta situação são:
- Metas de penetração de renováveis demasiado elevadas. Com apenas 7% da população mundial, a Europa investiu cerca de 500 mil milhões de euros em energias renováveis entre 2004 e 2013 – cerca de metade do investimento mundial em energias renováveis. Como consequência, as fontes renováveis na produção de electricidade ascendem actualmente a quase 25% no mix de produção.
- Tarifas feed-in muito generosas para subsidiação de fontes renováveis. O sobrecusto gerado por esta subsidiação implicou e continuará a implicar uma subida do preço final da electricidade. O caso mais emblemático é o de Espanha onde o défice tarifário ascende a quase 30 mil milhões de euros apesar das subidas já efectuadas nas tarifas.
- Decréscimo no consumo de energia: -0,5% na electricidade e -1,4% no gás em 2013
- Excesso de emissões de licenças de CO2 (superavit de 2.1 mil milhões de licenças) o que conduziu a preços muito baixos.
Como resposta à situação, as instituições europeias consideram:
- Flexibilizar as metas de energias renováveis pondo mais ênfase na eficiência energética para redução das emissões de CO2.
- Passar de um sistema de tarifas feed-in para soluções baseadas na competitividade e a uma maior exposição aos preços de mercado.
- Aliviar os sectores energia intensiva do fardo criado pelas renováveis o que implica que a factura sobrará para os restantes consumidores.
- Introdução de mecanismos de remuneração de capacidade com vista a garantia de potência.
Estas medidas visam a redução dos custos com objectivos ambientais, diminuir a dependência energética e garantir a segurança de abastecimento.
Resta saber até quando e até que ponto governos e reguladores conseguirão manter o ímpeto reformista necessário para resolver os desequilíbrios gerados com (espera-se) um mínimo de socialização dos custos.
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