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quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Foto-voltaico em Portugal: Realidade ou mito sebastianista?

Há vários anos que acompanho o mercado da energia solar em Portugal e que ouço falar da promessa do fotovoltaico, mas o arranque débil e a dificuldade que tem tido para crescer a par de outras energias alternativas sugerem que poderá não passar de mais um mito sebastianista.






De acordo com o “Global Market Outlook for Photovoltaics 2014-18”, publicado pela EPIA, Portugal tem uma capacidade instalada de apenas 24W per capita, o que contrasta com 294W em Itália, 229 W na Grécia e 71 W em França. Isto para não falar de alguns países do Norte da Europa, como a Alemanha, com capacidades instaladas acima dos 400W por habitante. Estes números são tão mais curiosos, se tivermos em consideração que Portugal tem um défice energético assinalável e é um dos países com maior número de horas de exposição solar em toda a Europa.
 
As razões por trás deste enigma são várias e assacam responsabilidades a um conjunto alargardo de intervenientes no mercado, mas eu gostaria de destacar três:
  • Ausência de uma visão para o setor: a falta de uma estratégia para o setor é bem visível e é capaz de ser o principal responsável para o fraco desenvolvimento do fotovoltaico em Portugal. Vários Governos elegeram a energia solar como uma prioridade, algo que foi aliás consagrado no último PNAER, mas a forma como o setor foi estruturado desde a sua inseminação nunca permitiu ao setor ganhar músculo. A política de subsídios, melhor conhecida na Europa por Feed In Tariff (FIT), é paradigmática desta falta de visão. Basta ver como os subsídios começaram por ser estendidos à micro-geração e só recentemente alargados à mini-geração, contrariamente a outros países Europeus. Sendo que os apoios a projectos estruturantes continuam a ser inexistentes. Ora, isto levou a uma pulverização de micro-empresários, sem capacidade nem ambição de desenvolver o setor. Em simultâneo vai levar a uma situação insustentável para o orçamento nacional, que se vai ver cada vez mais forçado a restringir os subsídios mediante o excesso de procura, sem que o setor, no entanto, tenha capacidade de caminhar por si.
  • Fraca aposta na produção de larga escala: os números que apontam para apenas 1% do investimento em fotovoltaico estar centrado em parques eólicos terrestres refletem uma falta de investimento privado neste setor e comprometem a afirmação do fotovoltaico como substituto a outras fontes de energia tradicionais. Por trás disto, está o facto da política de subsídios promover a micro-geração, mas também o facto de serem oferecidas melhores condições a outras fontes alternativas como o vento.
  • Desiquilíbrios na cadeia de valor: desde o início, vários players posicionaram-se numa parte mais a montante da cadeia de valor, apostando na produção, instalação e manutenção de panéis fotovoltaicos orientados para o segmento residencial. Mas a aposta num conjunto fragmentado de pequenos produtores residenciais sem planos de expansão acabou por afunilar o mercado. Muitos destes operadores acabaram por ter que se voltar para a exportação, relegando Portugal para mercado secundário e desacelerando ainda mais o desenvolvimento do fotovoltaico.
Neste momento, é importante pensar como retirar o setor deste empasse. Naturalmente que o primeiro passo é definir uma visão clara para este mercado e corrigir o enquadramento regulatório. Mas a solução não se extingue aqui e passa também por uma mobilização do setor privado. Como food for thought deixo-vos um vídeo com o caso de um dos players mais disruptivos no setor e que foi capaz de colocar o fotovoltaico no topo da agenda dos renováveis em França. https://www.youtube.com/watch?v=viAyuIGHUM4

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