Há vários anos que acompanho o
mercado da energia solar em Portugal e que ouço falar da promessa do fotovoltaico,
mas o arranque débil e a dificuldade que tem tido para crescer a par de outras
energias alternativas sugerem que poderá não passar de mais um mito
sebastianista.
De acordo com o “Global Market Outlook for Photovoltaics
2014-18”, publicado pela EPIA, Portugal tem uma capacidade instalada de
apenas 24W per capita, o que contrasta com 294W em Itália, 229 W na Grécia e 71
W em França. Isto para não falar de alguns países do Norte da Europa, como a
Alemanha, com capacidades instaladas acima dos 400W por habitante. Estes
números são tão mais curiosos, se tivermos em consideração que Portugal tem um
défice energético assinalável e é um dos países com maior número de horas de
exposição solar em toda a Europa.
As razões por trás deste enigma são
várias e assacam responsabilidades a um conjunto alargardo de intervenientes no
mercado, mas eu gostaria de destacar três:
- Ausência de uma visão para o setor: a falta de uma estratégia para o setor é bem visível e é capaz de ser o principal responsável para o fraco desenvolvimento do fotovoltaico em Portugal. Vários Governos elegeram a energia solar como uma prioridade, algo que foi aliás consagrado no último PNAER, mas a forma como o setor foi estruturado desde a sua inseminação nunca permitiu ao setor ganhar músculo. A política de subsídios, melhor conhecida na Europa por Feed In Tariff (FIT), é paradigmática desta falta de visão. Basta ver como os subsídios começaram por ser estendidos à micro-geração e só recentemente alargados à mini-geração, contrariamente a outros países Europeus. Sendo que os apoios a projectos estruturantes continuam a ser inexistentes. Ora, isto levou a uma pulverização de micro-empresários, sem capacidade nem ambição de desenvolver o setor. Em simultâneo vai levar a uma situação insustentável para o orçamento nacional, que se vai ver cada vez mais forçado a restringir os subsídios mediante o excesso de procura, sem que o setor, no entanto, tenha capacidade de caminhar por si.
- Fraca aposta na produção de larga escala: os números que apontam para apenas 1% do investimento em fotovoltaico estar centrado em parques eólicos terrestres refletem uma falta de investimento privado neste setor e comprometem a afirmação do fotovoltaico como substituto a outras fontes de energia tradicionais. Por trás disto, está o facto da política de subsídios promover a micro-geração, mas também o facto de serem oferecidas melhores condições a outras fontes alternativas como o vento.
- Desiquilíbrios na cadeia de valor: desde o início, vários players posicionaram-se numa parte mais a montante da cadeia de valor, apostando na produção, instalação e manutenção de panéis fotovoltaicos orientados para o segmento residencial. Mas a aposta num conjunto fragmentado de pequenos produtores residenciais sem planos de expansão acabou por afunilar o mercado. Muitos destes operadores acabaram por ter que se voltar para a exportação, relegando Portugal para mercado secundário e desacelerando ainda mais o desenvolvimento do fotovoltaico.
Neste momento, é importante
pensar como retirar o setor deste empasse. Naturalmente que o primeiro passo é
definir uma visão clara para este mercado e corrigir o enquadramento
regulatório. Mas a solução não se extingue aqui e passa também por uma mobilização do setor privado. Como food
for thought deixo-vos um vídeo com o caso de um dos players mais disruptivos no setor e que foi capaz de colocar o
fotovoltaico no topo da agenda dos renováveis em França. https://www.youtube.com/watch?v=viAyuIGHUM4
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