A primeira comparação a realizar entre veículos convencionais e eléctricos
será a eficiência energética do combustível. Nesta comparação há que ter em
conta dois aspectos principais: a densidade energética e a eficiência tank-to-wheel. A densidade energética
define quanta energia está contida numa determinada unidade física de
combustível. No caso de um combustível fóssil o exercício é relativamente
simples de fazer pois tal estará ligado às suas propriedades químicas. No caso
do gasóleo o conteúdo energético situa-se em torno dos 13 700 Wh/kg enquanto
que a gasolina andará pelos 12 200 Wh/Kg.
No caso dos veículos eléctricos não se pode comparar directamente com o peso
dos electrões mas sim das baterias que “geram” o seu fluxo. Nos últimos anos
tem-se assistido ao aumento considerável a densidade energética das baterias
eléctricas pelo que os valores actuais – 250Wh/kg para as baterias de
Lítio-Enxofre e 400 Wh/kg para as baterias de Sódio. Não só a densidade
energética é manifestamente inferior no caso das baterias como os veículos
suportam sempre o mesmo peso quer elas estejam carregadas ou descarregadas.
Para comparar a eficiência total de cada tipo de veículo há que considerar
outros factores como sejam o peso dos elementos mecânicos responsáveis pela
impulsão do veículo e o peso médio do veículo entre cada carga. Os motores
eléctricos têm uma relação potência/peso muito superior ao dos motores de
combustão – os motores eléctricos para uso em automóveis de alta performance
atingem os 8,8 kW/kg ao passo que os equivalentes nos motores de combustão atingem apenas 3,7 kW/kg.
Apesar de se referirem a modelos de alta performance, estes números dão-nos uma
ideia da diferença nos rácios peso potência dos dois tipos de motor. Além desta
vantagem, os veículos eléctricos possuem ainda a vantagem de necessitarem de
menos elementos mecânicos para além do motor. A maior simplicidade mecânica de
motor e transmissão dos veículos eléctricos é a razão para o diferencial
observado em termos de eficiência energética. Por isso, a eficiência energética
dos motores eléctricos com um grau de eficiência de 90% contra 25% para os
motores de combustão. Considerando toda a mecânica o grau de eficiência tank-to-wheel - percentagem de energia
entrada no “depósito” que é convertida em movimento - situa-se nos 70% para osVE e 16% a 20% para os VC.
Analisando a eficiência energética desde a extracção da energia primária até
ser convertida em movimento, os números apontam para um grau de eficiência na
ordem dos 30% para os VE e 14% a 18% para os VC o que indica que o processo de obtenção de derivados de petróleo é muito mais
eficiente que o da transformação da energia primária em electricidade
disponível para o consumo final.
Com base na densidade energética e eficiência mecânica das tecnologias
subjacentes é possível calcular a eficiência energia/peso (tank-to-wheel) de cada tipo de combustível bastando multiplicar os
dois factores. No caso dos motores de combustão temos eficiências entre 1 800
Wh/kg e 2 750 Wh/kg ao passo que nos veículos eléctricos temos eficiências
entre 175 Wh/Kg e 280 Wh/kg. Portanto, a eficiência energia/peso do “combustível”
considerada desde que é carregada no veículo até se transformar em movimento é
cerca de dez vezes inferior no veículo eléctrico quando comparado com os
veículos movidos a motor de combustão. Mas, apesar da desvantagem ao nível da
eficiência energia/peso, os motores eléctricos apresentam eficiências
energéticas (grau de transformação da energia recebida em movimento) muito
superiores aos dos motores de combustão. Esta vantagem permite que os
automóveis eléctricos tenham consumos comparáveis muito inferiores aos veículos
convencionais (VC) equivalentes (na ordem dos 50%).
Quadro 1 – Comparação de consumos
de energia por 100km percorridos
Modelo
(combustão)
|
kW
(cv)
|
l/100km
|
Modelo
(eléctrico)
|
kW
(cv)
|
l/100km
|
77 (105)
|
4,2
|
83 (111)
|
2,0
|
||
82 (110)
|
3,9
|
85 (115)
|
2,0
|
||
110 (150)
|
4,1
|
107 (143)
|
2,3
|
||
97 (130)
|
7,4
|
92 (123)
|
2,0
|
||
110 (150)
|
5,7
|
115 (154)
|
3,1
|
Nota: Consumos
combinados anunciados pelo fabricante
Concluindo, a desvantagem dos carros eléctricos ao nível da densidade
energética do seu “combustível” acaba por ser compensada pelas vantagens ao
nível mecânico que proporcionam não só menor peso como uma melhor relação
peso-potência ao nível do motor. De facto, verifica-se que, em termos de
relação potência-peso total, os VE tendem a situar-se um pouco acima dos
veículos convencionais com potências semelhantes.
Quadro 2 – Comparação de relação
peso/potência
Modelo
(combustão)
|
kW
(cv)
|
kg
|
W/kg
|
Modelo
(eléctrico)
|
kW
(cv)
|
kg
|
W/kg
|
77 (105)
|
1380
|
55,8
|
83 (111)
|
1350
|
61,5
|
||
82 (110)
|
1378
|
59,5
|
85 (114)
|
1585
|
53,6
|
||
110 (150)
|
1350
|
81,5
|
107 (143)
|
1651
|
64,8
|
||
97 (130)
|
1140
|
85,1
|
92 (123)
|
1475
|
62,4
|
||
116 (155)
|
1620
|
71,6
|
115 (154)
|
1830
|
62,8
|
Tudo indica que com o desenvolvimento das performances dos motores
eléctrico e, em maior medida, da redução do peso específico das baterias, os
veículos eléctricos ganharão a corrida da competitividade técnica nos próximos
10 anos.
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