É curioso constatar que nas 574
observações analisadas (observações semanais entre 2004 e 2014), o número de semanas em que houve aumentos de preços foi
praticamente idêntico ao número de semanas em que houve descidas (nos preços
dos três produtos).
Movimento
|
Gasolina
|
Gasóleo
|
Brent
|
Subida
|
52%
|
51%
|
49%
|
Manutenção
|
6%
|
5%
|
0%
|
Descida
|
42%
|
44%
|
51%
|
Quadro 2 – Percentagem de casos de
subida, descida e manutenção de preços para a gasolina 95, gasóleo e Brent
Como é expectável que, dado o
processo produtivo dos combustíveis, as oscilações do preço do crude não tenham
impacto imediato no preço dos combustíveis calcularam-se as correlações admitindo
diversos desfasamentos temporais (em semanas).
Desfasamento
|
Gasolina
|
Gasóleo
|
0 semanas
|
0,979
|
0,979
|
1 semana
|
0,982
|
0,984
|
2 semanas
|
0,979
|
0,984
|
3 semanas
|
0,973
|
0,981
|
Quadro 3 – Coeficientes de correlação
entre o preço dos combustíveis e o preço do Brent (valores absoluto de 1
significa correlação linear perfeita e 0 significa ausência de correlação)
Os coeficientes de correlação são
sempre superiores a 0,97 (pelo menos até às 3 semanas de desfasamento). O
desfasamento de uma semana é o que origina maiores coeficientes de correlação
nos dois combustíveis, algo que é claramente confirmado quando se repete a
análise das séries em diferença e em taxas de crescimento. A estimação de
modelos econométricos permite confirmar que os preços de uma determinada semana
são significativamente afectados pela evolução verificada para o crude nessa
semana e nas três anteriores mas o maior impacto vem do preço do crude da semana
anterior. Há também forte evidência que suporta uma relação de longo prazo
entre o preço dos combustíveis e o preço do Brent que aponta para que, em
média, o preço da gasolina varie 0,7 cêntimos por litro por cada Euro de
variação de um barril de Brent e 0,8 cêntimos por litro no caso do gasóleo.
Focando-nos na resposta dos
preços dos combustíveis a variações ocorridas no preço do crude da semana
anterior, observa-se o seguinte:
A correlação é clara e corrobora
que variações do preço do crude têm um impacto ligeiramente superior no preço
do gasóleo que no preço da gasolina. Outro aspecto que sai desta análise é que,
em média, se verifica que o preço dos combustíveis sobe (entre 0,02 e 0,03
cêntimos por litro a cada semana) independentemente da subida ou descida do
crude. Mas convém não esquecer que esta análise se refere a apenas um
desfasamento e que quando se analisam a totalidade dos desfasamentos
significativos a constante não é significativamente diferente de zero.
Os quadrantes Noroeste e Sudeste
dos gráficos representam os casos em que as variações dos preços tiveram
direcções opostas e, no caso desta análise desfasada em uma semana, o número de
casos em que os combustíveis sobem quando o crude desce é ligeiramente superior
ao do fenómeno oposto.
Estimou-se um modelo simples para
permitir reunir evidência que confirme se as variações, apenas com desfasamento de uma
semana, são idênticas para as subidas e para as descidas do crude. O modelo
econométrico estimado valida a hipótese de assimetria da resposta (mas convém
recordar que estamos apenas a analisar o desfasamento mais importante e não uma
análise total que se revestiria de maior complexidade). Só que, ao contrário da
opinião mais comum, as evidências vão no sentido de uma maior sensibilidade dos
preços nas descidas do que nas subidas.
Figuras 6 e 7 – Funções estimadas para
a relação entre a evolução dos preços da gasolina e do gasóleo com o preço do
crude no momento t-1 com base em observações semanais entre 2004 e 2014
Em média, o preço da gasolina é 3
vezes mais sensível nas descidas do que nas subidas ao passo que o gasóleo é 2
vezes mais sensível na primeira situação do que na segunda. No quadro seguinte
mostra-se qual foi, em média, o impacto nos combustíveis de variações no preço
do crude com base nos resultados deste modelo (limitado).
Sensibilidade média dos preços a variações no preço do Brent (EUR)
Variação Brent
(EUR/barril)
|
Variação Gasolina
(EUR/litro)
|
Variação Gasóleo
(EUR/litro)
|
-10
|
-0,043
|
-0,036
|
-5
|
-0,020
|
-0,017
|
-2
|
-0,007
|
-0,006
|
-1
|
-0,002
|
-0,002
|
0
|
0,002
|
0,002
|
1
|
0,004
|
0,004
|
2
|
0,006
|
0,006
|
5
|
0,011
|
0,011
|
10
|
0,019
|
0,021
|
Quadro 4 – Simulação das variações nos
preços dos combustíveis com base nas funções estimadas
Em resumo, da análise realizada é possível demonstrar que em Portugal:
· O preço dos combustíveis antes de impostos se
encontra fortemente correlacionado com a evolução do preço do Brent
· No cálculo dos preços dos combustíveis está
contida informação da evolução do preço do crude até, pelo menos, às 3 semanas
anteriores
·
O preço do crude na semana anterior à fixação de
um novo preço é o que tem maior peso
· Não existe evidência de que os preços dos
combustíveis sejam mais sensíveis às subidas do que às descidas no preço do
crude
Com base nestes resultados pode
concluir-se que a fiscalidade tem servido de filtro do sinal de preços que é
percepcionado pelos consumidores. Se é verdade que traz o benefício de reduzir
a volatilidade nos preços, também é verdade que tem um impacto muito
significativo no preço final com as devidas consequências nas opções de consumo
e poupança bem como o efeito de transmitir a ideia de uma desconexão entre o
preço do petróleo bruto e dos combustíveis.
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