É comum ouvir-se tanto em
conversas de café como nos media a
ideia de que há uma assimetria no ajustamento dos preços da gasolina e do
gasóleo em relação ao preço do petróleo. Existe a percepção de que os preços da
gasolina e do gasóleo nem sempre descem quando o crude desce e que as subidas
são sempre mais rápidas e intensas do que as descidas. Esta percepção está
errada (algo que este artigo, dividido em duas partes, pretende demonstrar) e, mesmo que estivesse certa,
esquece que há mais factores para além do crude a determinar as variações no
preço dos combustíveis.
Comparando a evolução semanal dos
preços do Brent e dos dois principais combustíveis líquidos, expressos em euros
para expurgar o efeito cambial, constata-se uma correlação significativa entre
os três.
Figura 1 - Evolução semanal do preço
do Brent (valores no eixo da direita), da gasolina 95 e gasóleo (valores no
eixo da esquerda) expresso em Euros.
Valores para o preço do Brent
foram obtidos no site da U.S. Energy Information Agency (http://www.eia.gov/dnav/pet/hist/LeafHandler.ashx?n=pet&s=rbrte&f=w)
e os preços da gasolina e gasóleo em Portugal foram extraídos do site da
Direção Geral de Energia e Geologia (http://www.dgeg.pt/
Estatísticas e Preços -> Preços de Combustíveis -> “Preços de
Combustíveis Líquidos (a partir de 2004)”).
Constata-se igualmente que a
trajectória do preço do crude é manifestamente mais volátil que a dos
combustíveis e que há um grande paralelismo entre o preço do gasóleo e da
gasolina mas com algumas excepções. Os preços acima ilustrados são preços de
venda ao público pelo que são afectados pela componente fiscal. A figura seguinte
compara os preços antes e depois de impostos.
Figura 2 - Evolução semanal do preço
da gasolina 95 e do gasóleo com e sem impostos (IVA, ISP e outros).
Do gráfico conclui-se que o PVP
da gasolina é constituído por cerca de 60% de impostos (IVA, ISP e outros) e o do
gasóleo por cerca de 50%. Expurgado o efeito fiscal, os preços da gasolina e do
gasóleo são praticamente idênticos tendo-se verificado, neste período, que o
gasóleo se situa ligeiramente acima da gasolina. A longo prazo as opções fiscais
induzem um comportamento no preço dos combustíveis que é bastante distinto do
preço antes de imposto e que é o que está, de facto, ligado aos custos de
produção e vicissitudes do mercado dos combustíveis fósseis. São, portanto,
estas séries que devem ser comparadas com a evolução do preço do crude para que
se possa retirar alguma conclusão no que toca à dinâmica dos preços.
Figura 3 – Comparação do preço da
gasolina 95 e do gasóleo sem impostos e o Brent (valores no eixo da direita)
Se na Figura 1 a correlação entre
o Brent e os preços dos combustíveis era forte, agora parece quase perfeita.
Constata-se por isso que a volatilidade dos preços antes de impostos é superior
à dos preços de venda ao público.
Na segunda parte irão ser apresentados os resultados de uma análise mais científica à relação entre estas séries.
(Continua)
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