No
entanto, a produção
descentralizada em larga escala acarreta alguns desafios importantes:
- Será
necessária a adaptação tecnológica de toda a rede a esta nova
realidade (contadores inteligentes, instalações capazes de entregar e receber electricidade da rede,
redes capazes de lidar com inversões
de fluxos, novas tecnologias para protecção da rede e detecção
de defeitos…). Esta adaptação não é isenta
de custos no actual estado da arte.
- Se por um lado a produção localizada pode aliviar a rede e reduzir as perdas, por
outro lado, no caso de produção
de volumes muito acima das necessidades de consumo locais ou de produção que não esteja ligada a redes próximas de pontos de consumo, os fluxos de energia carregados
na rede podem vir a gerar níveis
de perdas superiores;
- Os novos geradores terão de possuir sistemas de controlo da qualidade da energia
produzida (flickes, harmónicas,
reactiva)
- Risco de geração de custos afundados uma vez que o novo paradigma pode
tornar obsoletas instalações
que ainda poderiam funcionar por mais alguns anos. Uma vez que esta transformação durará previsivelmente alguns anos este risco parece-me
relativamente limitado.
-
A perda de previsibilidade dos fluxos por parte
dos operadores das redes de distribuição
gera riscos adicionais na realização
de operações de manutenção e reparação na rede.
- Tal como tem vindo a acontecer com a nova vaga
de produção renovável em Portugal, a
imprevisibilidade da geração
“verde” gera desvios em relação aos programas horários de operação do sistema eléctrico e cuja resolução envolve custos com a utilização de serviços auxiliares.
Finalmente
põe-se a questão do preço a que esta “nova
energia” será paga. Assumindo uma subsidiação meramente residual (que
reconheça as
externalidades positivas a nível
ambiental e não só mas que as concilie com o
desejo de uma factura eléctrica
mais baixa) a lógica da
competitividade de cada tecnologia contribuiria para que se evitassem excessos
ou decisões que
prejudiquem o bem estar global da sociedade. As tecnologias que provem ser mais
competitivas que as tradicionais ganharão
progressivamente quota em função
dessa mesma competitividade.
No entanto, mesmo sendo
superados os desafios antes enunciados, antevê-se pouco provável a inversão do
paradigma actual. A escala e grau de especialização de grandes centro
produtores - que poderão ter acesso à mesma tecnologia adoptada pela
microgeração e em melhores condições - leva-me a duvidar que o paradigma da
produção descentralizada venha fazer desaparecer os grandes produtores à escala
global. O tecido empresarial e o mercado de trabalho têm, desde há séculos, convergido para uma cada vez
maior especialização dos agentes. Os grandes projectos de geração não deixarão
passar ao lado os ganhos de competitividade trazidos pela inovação tecnológica
pelo que uma nova visão que ambicione tamanha inversão da realidade talvez
precise de ser repensada.